Capoeira é a Distorção no Movimento da Parada!

terça-feira, 21 de julho de 2009

CAPOEIRA: LUTA LIBERTÁRIA

"Como falaram alguns Mestres;
a capoeira pode ter nascido para matar quem nos impede de ser livre.
E ela deve continuar assim.
Na luta pela libertação
devemos usar todas as armas,
todas as forças!"


Roberto Freire
(depoimento do 3° Batismo Palmares Sul: Soma e Capoeira)

É muito difícil para mim usar essa palavra: Mestre. Como anarquista que sou nosso lema é nem Deus, nem mestre. A terapia da soma passou a se associar com a capoeira e hoje ela não pode mais existir sem a capoeira. Há terapeutas no Brasil que seguem minha linha e não estão usando a capoeira. Eu condeno isso e acho uma traição, a negação do que há de essencial na soma e sua relação com o que há de mais brasileiro nela. De mais verdadeiro no sentido do que entendo que seja uma terapia. As terapias tradicionais, as históricas, de várias obras de Freud, fundamentalmente são terapias de adaptação das pessoas ao sistema burguês capitalista. A ideologia dos psicanalistas, são todos burgueses capitalistas. Nas épocas da ditadura era preciso criar um tipo de terapia que desse assistência as pessoas que lutavam contra o fascismo, ou seja, encarávamos uma realidade que não existia até então. Nasceu a soma, dos encontros clandestinos. Fui buscar fundamentação teórica-técnica nas obras de vários pesquisadores alemães, sobretudo Reich. Ofereciam possibilidade de se criar alguma coisa que libertasse o homem (mulher) não para a direita, nem para a esquerda, nem para cima nem para baixo, ou ao centro. Mas fazer com que se tornasse capaz de lutar por si mesmo, como ser livre, por aquilo que el@ acredita. Sem partidos, sem organização, sem dependência de nada. Em 1969 eu tive a imensa felicidade em estar trabalhando para a revista REALIDADE, e ser incumbido de fazer uma entrevista com Mestre Pastinha, em Salvador. Como ele passava os ensinamentos de vida e liberdade... naquela pobreza a que era submetido pela situação que se vivia no país. Reportagem que tenho muito orgulho em ter feito; se chamou: "É dança, é luta, é capoeira". Depois de ter convivido intimamente com aquela academia e seus discípulos concluí a matéria. Passado um tempo após a morte de Pastinha, ao desenvolver a soma, um dia percebi que havia uma identidade absoluta do que eu chamava de libertação terapêutica com a libertação d@s escravizad@s. Estudando a história da capoeira me tornei mais lúcido. A capoeira foi o que realmente libertou @ escravizad@ no Brasil. Para o homem (mulher) Negr@ poder ser livre el@ tinha que transformar seu corpo num instrumento de libertação. Para enfrentar a arma branca e arma de fogo. Conseguir que sua energia viva fosse suficiente para enfrentar as armas de morte. Para mim terapia significa transformar o corpo, minha pessoa, numa arma que me possa libertar de todas as outras que existem, reprimindo minha liberdade. Nós queríamos e queremos uma liberdade de ser originalmente o que a gente mesmo é mesmo, né? Em alguns anos, com Lamir das areias fiz minha formação de capoeirista. A gente se apaixona pela capoeira porque a gente se apaixona pelo processo de libertação. A neurose está no corpo e não na mente, se não libertarmos nossos corpos, nossas mentes não serão livres. Libertação da dependência, da sujeição, da discriminação, da humilhação. Fiquei doente e totalmente impossibilitado de jogar capoeira. O que ficou foi o grande tesão pela capoeira, a paixão. O terapeuta burguês não quer libertar seu corpo, quer continuar burguês. Se fizer capoeira, deixa de ser burguês. Vai ter que ser um lutador, ser um homem comum. As dificuldades são essas, eles querem melhorar o sono, querem trepar melhor, querem dar mais risada, mas lutar, ser eles mesmos, eles tem medo. Muito recentemente me desesperei e achei que a soma estava perdida, todo o trabalho de uma vida. 30 anos de luta, para criar uma terapia brasileira e libertária, servindo ao nosso projeto anarquista de libertação do homem(mulher). Vi que não adiantava. Sem a capoeira estar implantada junto com o soma, a soma não valia nada. Como falaram alguns Mestres; a capoeira pode ter nascido para matar quem nos impede de ser livre. E ela deve continuar assim. Na luta pela libertação devemos usar todas as armas, todas as forças. Se não seremos submetidos teremos que viver nessas falsas liberdades. Falsas repúblicas, falsas democracias, falsas terapias e falso amor. Nos habituam a viver em migalhas de criatividade. Já sou radical, ao me tornar mais velho estou cada vez mais radical. Ou é livre ou não é, ou ama ou não ama, ou luta ou não luta. E a capoeira é radical. Ela não nasceu para agredir, pra ser violenta, mas para impedir a violência. Para que as pessoas aprendam a não abusar e usar o outro, porque o outro sabe se defender. Poder ser livre precisa de preparação, de aprendizado. E os mestres estão aí, pra passar isso, pra nós. Capoeira é capoeira, soma é soma, nós simplesmente estamos usando a tradição, a verdade, limpeza e pureza da capoeira. Pra transformar o processo terapeutico que nasceu libertário e quer continuar. Não me sinto burguês e quero me livrar da burguesia. Como a capoeira, o soma é marginal, e está se expandindo. Mesmo com a atenção estrangeira, continuaremos aqui dentro lutando seriamente, não pela preservação da capoeira, pois ao contrário, ela nos preserva. Vamos lutar pela capoeira, pela arma popular nacional que ela é. Eu quero viver a "margem" do sistema, não quero participar de nada dele. Não quero que me cobrem o que estão impondo no momento. Eu sou marginal. É preciso que gostemos dessa marginalidade e que se viva e se sobreviva nela. Temos que descobrir coisas criativas em nós, localizar nossos potenciais criativos e produtivos. Para que sem depender do sistema, a gente possa produzir, criar e viver às nossas custas. Por que se eu depender de alguma coisa do sistema, me comprometo com ele. O que tá sendo mais impedido, hoje nesse país, é a liberdade. Caçada de todo jeito, através de uma pseudo-liberdade. Quando a gente ama nossa autonomia, a gente acaba ficando um pouco marginal e a admiramos quando dentro dela lutamos contra o sistema. Como anarquista eu não vou concordar que nenhuma instituição dirija o poder, isso é a base, o anarquismo significa contra o poder, não poder. Interesse no prazer, naquilo que possa trazer novas formas de organização social e vida humana que não dependam de nada que venha de cima para baixo. Eu amo a capoeira, porquê? Por que ela vem de baixo para cima. Agora, instituições que aspiram chegar ao poder e lá de cima, mandar, eu não concordo. Por exemplo, não concordo com o voto, por que as pessoas que eu voto deveriam trabalhar para aquilo que eu penso, e elas chegam lá em cima e fazem o que querem mandados por cartéis econômicos poderosos internacionais.

UMA PERGUNTA: Será que todo(a) capoeirista pelo fato de estar fazendo capoeira já é livre? Ele já é um instrumento de libertação porque fez capoeira? Será que quem faz soma torna-se uma pessoa realmente livre e um instrumento libertário? Só por fazer soma? Tanto a soma quanto a capoeira são instrumentos de libertação, podemos utilizá-las, dependendo do tipo de consciência política que a gente tem. Podemos limitá-la a um trabalho corporal esportivo. A uma sensação de prazer, de bem estar, de auto-suficiência, de competência. A soma pode nos dar uma sensação de uma sexualidade melhor e afetividade mais livre. Mas isso não quer dizer que essa liberdade de aumentar nosso prazer de viver, tenha nos transformado numa "pessoa libertária". Ninguém será livre, se todos não forem livres. Ninguém poderá estar falando pela liberdade pessoal se não estiver simultaneamente ligado a liberdade social. As pessoas que fazem soma aprendem, ou é para aprender que ao fazer terapia estão se propondo a mudar ideologias.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Mestre Bigodinho: Faça pouco bem feito do que muito mal feito!

"A Capoeira é uma defesa pessoal
e cada qual se defende como pode
na hora da necessidade.
A capoeira não é valentia".



Santo Amaro/BA, iniciou sua prática na capoeira em 1950 sob os cuidados de Mestre Waldemar, convivendo junto ao seu Mestre até o início dos anos 70, quando afastou-se da capoeira devido a repressão e pouca valorização da época.
Porém, na década de 90, incentivado pelo seu amigo Mestre Lua Rasta, Mestre Bigodinho volta ao convívio das rodas de Capoeira e logo é convidado à ingressar na Associação de Capoeira Angola/ABCA. Por ter vivenciado os momentos difíceis da capoeira, onde "corria da polícia com os seus meninos, pois não se podia jogar capoeira", o Mestre merece o nosso respeito e admiração. Hoje em dia, o Mestre Bigodinho está sempre presente nas rodas, contribuindo com todo o seu conhecimento e sabedoria.





Texto retirado do site atelier lua

créditos

http://www.atelierlua.com.br/